Logo após o sol dar seus primeiros toques brilhantes na parte ocidental do planeta, ele voltava para casa depois de uma noite inteira de entrega aos prazeres hedonistas e solitários.
Ao ver o brilho amarelo do gigante de hélio caindo sobre as paredes grafitadas e envelhecidas, percebeu detalhes mínimos ao seu redor até então ocultos. Nuances quase imperceptíveis da realidade que mandam mensagens matadoras somente quando a mente está desperta.
Observou, por exemplo, que tudo, até mesmo a mais dura rocha, morre um dia. Esfacela-se pelo peso do tempo, que a tudo cura e destrói.
Pensou em sua cafeteira de marca duvidosa. Ela o acompanhou todo santo dia por muitos anos. Mas infelizmente, “morreu” ao seu modo. Ou mesmo seu bicho de estimação velho demais, cansado demais e que quis morrer. Naquele dia, beijou docemente aquela cabeça peluda que tanto sonhou, na esperança infantil de vê-la, quem sabe, em um mundo pós vida.
Além disso, seus poucos amigos foram embora para um lugar distante. Ele os seguiu. A festa deveria continuar em qualquer lugar.
Licenças poéticas a parte, continuou andando pela rua cinza brilhante de amanhecer, a única realidade que dispunha. Sabia que sua gata agora era só um fantasma negro de tudo o que foi e nunca mais será novamente, que todos os barcos foram queimados. E levava consigo um último pensamento antes de cair no sono da manhã e acordar de ressaca:
“O momento certo é uma fábula”.
Rumskib – You´re My Japan
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