Cyberpunk do Subúrbio

domingo, março 22, 2009




Ao sabor de uma brisa quente em plena noite, desço do ônibus. Indo para casa. Uma caminhada de dez minutos através de ruas, pessoas e objetos suburbanos dignos do rótulo Cyberpunk. Uma precária iluminação com suas enormes e pontiagudas silhuetas negras, dáo toque sombrio. O cheiro das descargas de chaminés do conglomerado petroquímico, a menos de 10Km de distancia, dá o cheiro grotesco a cena. Fábricas de negro-fumo, industrias de benzeno, derivados fétidos de celulose. Um pequeno exemplar de inferno sintético para evitarmos futuros pecados.

Como sempre, tenho nos ouvidos um universo sonoro que me separa do que vejo. Como que protegido por uma bolha (de sons, pensamentos, ícones obscuros da industria cultural), que não me contamina com a rua viva, pulsante, rápida. Um vírus correndo e corroendo rápido por dentro das veias apodrecidas de uma cidade doente.

Mas isso não é ficção cientifica.

Está é a realidade onde fetiches e obsessões surgem ao comando de um deus que projeta novos prazeres para almas vazias e ávidas por sentido. E nessa realidade esse deus inventou felicidades vãs que se esvaem tão velozes como uma gota de éter que se dissipa ao pingar no chão. Uma de suas grandes criações são os paraísos artificiais. Líquido, pó ou fumaça: muitos são os portões que levam à simulações de mundos de estados perfeitos da mente. Aqui e ali, pequenos grupos, recostados em muros com muitas estórias, sorvem discretamente os diversos meios de chegar a Shagri-La. A primeira viagem virtual de boas sensações da humanidade.

Ao longo do caminho, uma outra criação: o ardor por corpos que expelem desejo. Doze, treze, quatorze, quinze anos. Aprendizes de luxuria em roupas mínimas que destacam seus corpos inflados de hormônios mutantes. Meninas que conheceram o desejo através de músicas onde a sensualidade hipnotiza sob a influencia de antigos toques de tambores advindos da mãe-áfrica. Pequenas usuárias da diversão de corpos, que necessitam do prazer como força dominadora. E a rua está cheia delas.

E nas ruas também estão as necessidades que não precisamos . São representados pelos grandes bocados de lixo, banquete dos cães pulguentos. Um manjar para seus estômagos dilacerados pela fome. Servem-se também aqueles que transformam caixas de tv´s LCD em dinheiro. Emprego sem chefe e sem horário. Recicladores de objetos urbanos. Inconscientemente, têm na mente a certeza que toda grande novidade, toda grande novidade da moda, qualquer tecnologia de ponta, um dia, estará em qualquer esquina.

Um dia será lixo.

E assim caminho entre aqueles que consomem um mundo de terceiro mundo. Carne, I-phone, grifes. Churrasquinho de gato, Mp9, óculos clones vendidos nas praias. Uma versão pobre e suja de um mundo que desponta para um futuro informacional sem precedentes. Aqui, o futuro está nas mãos de um camelô.