Não
há mais rebeldes como em 1992. Sim, claro que houve vários depois desse ano.
Claro que aconteceu um rio de posturas revolucionárias, eternas enquanto a
juventude e a moda do período ditavam as regras. Claro que houve tudo e tudo
aconteceu. Mas me deixo levar pelo meu egoísmo, pela minha vontade de ser
adorado, pelo meu rock star morto e frustrado no coração adolescente. Lembro
com paixão, lembro com loucura nos lábios, com saudades no olhar, com gosto de
vodka e refrigerante na boca, que nunca houve rebeldes como os de 1992.
Tínhamos
uma cidade inteira sem violência, onde percorríamos as ruas até as ultimas
horas da madrugada. Bebida forte, vinho de quinta categoria, nuvens que quase
nunca explodiam em chuva forte, praças mortas com bancos de cimento confortáveis.
Pertencíamos a toda uma vida sem dinheiro suficiente, uma vida sem carros para
nos levar de volta para casa. Éramos Hell´s Angels de bicicletas velhas, toca
fitas com headphone nos bolsos e muita musica com paredes ruidosas de sons
lisérgicos vindos de Manchestes, Liverpool e Londres. E não eram Beatles, não
eram Rolling Stones.
Era
Jesus and Mary Chains, Ride, Chapterhouse, My Bloody Valentine e tudo que
soasse frio, vazio, ruidoso e porque não, delicado. Musica ruidosa,
desagradável aos ouvidos, distorção ensurdecedora. Nossas canções favoritas era
uma fruta deliciosa com uma casca cheia de espinhos. E lavava nossas almas.
Aliviavam nossas dores adolescentes. E para acompanhar, havia além do álcool,
éter e clorofórmio. Clorofórmio era LSD suburbano para embalar canções de amor
barulhentas e lisérgicas. Canções como esse hino de rebeldia “shoegaze” que é “Kick the
tragedy”.
Quantas
vezes ouvi isso voltando para casa, literalmente encharcado de bebida,
pedalando de olhos fechados na minha velha bicicleta enferrujada? As paredes
sônicas me levando pelo ar sob bilhões de pontos de luz no espaço. Lua branca
de cidade industrial e poluída reinando no céu negro. E tendo como única
riqueza, fitas gravadas de um amigo que trazia as novidades de São Paulo!
Aos
14 anos, era desregrado, estranho, solitário, sem rumo... E tudo era possível.
Magicamente possível. E é disso que sinto mais falta...
Em 1992 eu provavelmente te diria: "Ouça
para sentir-se melhor quando o mundo te fode a alma."
Drop Nineteen -
Kick the tragedy