Nanny
me pediu algumas dicas de livros para ela ler nas férias (acho). Claro que
poderia simplesmente mandar uma lista de tudo que li e gostei de coração por
e-mail, de forma rápida, sem delongas. Mas quando se fala em livros (no caso,
meus livros), acho justo compartilhar do meu gosto com amigos e outros
anônimos. Talvez uma ou duas das poucas pessoas que aqui visitam, podem ter
interesse nessa pequena lista, catalogada por ordem de importância. Minha
humilde e pessoal importância que deposito ao que meus olhos consomem e
consideram "bom". Enfim, tome lá:
6 º "Miso Soup": Ryu Murakami
Kenji
é um guia de turismo sexual em Tóquio. Saca os melhores bares de strip, clubes
de sadomasoquismo e lingerie. Sabe onde está cada canto sujo da cidade. Apesar
de viver num mundo promiscuo, ele é fiel a sua namorada, Jun. E Jun é a
antítese do mundo podre e degradado de Kenji. Uma flor de Sakura delicada que o
limpa da discordia. Um dia, ele conhece o estranho turista americano, Frank,
que o contrata como guia. Mas Kenji percebe que o americano veio ao Japão com
interesses que vão além do turismo sexual: Frank quer experimentar o prazer...
de ceifar vidas!
Murakami nos mostra o verdadeiro e decrépito
Japão de hoje: o esquecimento das antigas tradições dão lugar ao consumo, ao
prazer sexual e a solidão.
Trecho: "A maioria as prostitutas japonesas
vende o corpo não pelo dinheiro, mas para escapar da solidaão".
5º "Non-Stop": Martha Medeiros
Non-Stop
não é apenas uma coletânea de crônicas sobre temas variados do relacionamento
humano. É um guia do cotidiano moderno indispensável para guardar na estante e
no coração. Amor, sexo, família, preconceitos, rótulos, pais, filhos, vida.
Para os de dura cerviz, talvez seja nada mais que um livreco de auto-ajuda
disfarçado de moderninho. Como eu disse, isso é opinião dos de dura cerviz. São
apenas conselhos sinceros que te levam a rir o quanto puder, assim como chorar
o quanto puder. Serve quando um ombro amigo não está por perto!
Trecho: "O prazer não
está em ler uma revista, mas na sensação de estar aprendendo algo. Não está em
ver o filme que ganhou o Oscar, mas na emoção que ele pode lhe trazer. Não está
em faturar uma garota, mas no encontro das almas".
4º "A hora dos assassinos": Henry Miller
Henry
Miller dispensa comentários. Aqui temos o encontro de dois mestres que vivem em
meu subconsciente desde sempre. Acredito que autores não nos conquistam com
suas palavras e historias. Essas palavras e histórias já nascem conosco, já
começam a ter simbiose com nosso corpo na escuridão no útero. Quando li
Rimbaud, eu me vi em suas palavras. Assim se deu com Miller. Nessa obra, o
autor de "Sexus", "Nexus" "Plexus" nos conta a
vida de Rimbaud através de sua verborragia linda tão peculiar.
Miller tem o entusiasmo na escrita que muito me
influenciou. Enfim, nada como ler um maldito falando de outro.
Trecho: "O mundo
detesta a originalidade; ama o conformismo, só quer escravos e mais escravos. O
lugar do gênio é na sarjeta, cavando valas, ou nas minas ou pedreiras, uma toca
qualquer onde seus talentos não sejam utilizados. Um gênio à procura de emprego:
eis aí umas das visões mais tristes desse mundo!".
3º "A praga Escarlate": Jack London
Imagine
um futuro onde uma praga dizima toda a humanidade deixando apenas uns poucos
sobreviventes. Nesse futuro, garotos tem colares de ossos no pescoço e brincos
gigantescos nas orelhas. A cultura entra em colapso e qualquer tipo de
linguagem mais rebuscada é tida como uma engraçada forma de se expressar.
Parece com algo que você conhece? Pois saiba que o profeta Jack London viu
nosso atual presente em 1912 e estava "milimetricamente" certo!
Trecho: "Uns lutam, outros governam, há os
que rezam. E todo o resto trabalha duro e padece terrivelmente enquanto, sobre
seus corpos sangrentos, erigem-se de novo, e para sempre, a beleza arrebatadora
e o fascínio incomparável da organização civilizada. Tanto faz se eu destruir
todos os livros guardados na caverna... Ficando ou desaparecendo, todas aquelas
verdades serão descobertas; todas as mentiras, vividas e passadas adiante. Qual
a vantagem..."
2º "Bonequinha de Luxo": Truman Capote (edição Companhia das Letras)
Se
há algo que não entendo hoje em dia é o fato de muitas garotas terem a imagem
de Amelie Poulain estampadas em suas camisetas. Amelie não combina de forma
alguma com a vida dessas moças da noite (no bom sentido é claro) que se perdem
em festas intermináveis dentro de clubes.
Eu sempre vejo tristeza nesses
lugares! Mesma com minha música preferida explodindo nas caixas de som! Sempre
achei o glamour uma coisa vazia, algo derivado de uma solidão iminente. E Holly
Golightly (no rosto de Audrey Hepburn) deveria estampar-se no peito dessas
garotas. A sexy e divertida solidão de Holly Golightly...
Trecho: "Todo dia é
feriado para a senhorita Holly Golightly!".
1º "Eu Receberia As Piores Noticias Dos Seus Lindos
Lábios": Marçal Aquino
Assim
como o personagem Cauby eu "nunca acreditei no diabo, apenas em pessoas
seduzidas pelo mal". Marçal Aquino é o verdadeiro homem com uma dor no
coração. E ele é bem mais elegante! Indispensável!
Trecho: "Ela congelou o gesto de colocar as
fotos no envelope, virou o rosto e me estudou, como se avaliasse se eu tinha
mérito suficiente para receber o que pedia. Sustentar aquele olhar escuro foi
uma experiência difícil. Fez com que eu me sentisse desamparado. Fiquei com a
impressão de estar sendo visto de verdade pela primeria vez na vida. E também
de estar vendo algo que o mundo não tinha me mostrado até então.
De acordo com o professor
Schianberg, não é possível determinar o momento exato em que uma pessoa se
apaixona. Se fosse, ele afirma, bastaria um termômetro para comprovar sua
teoria de que, nesse instante, a temperatura corporal se eleva vários graus.
Uma febre, nossa única seqüela divina. Schianberg diz mais: ao se apaixonar, um
'homem de sangue quente' experimenta o desamparo de sentir-se vulnerável. Ele
não caçou; foi caçado."