Estadunidenses não suportam legendas em filmes. De modo igual, os dublados são desprezados. As más línguas dizem que os ouvidos deles sangram ao escutar fonemas estrangeiros.
Então não assistem produções de outros países? Ora, não. Preferem fazer mais “simples” que isso: sem pestanejar, filmam tudo de novo. Gastam quilos de dinheiro em um remake, mesmo que a produção tenha sido lançada há um ou dois anos.
A versão hollywoodyana de “Os Homens que não amavam as mulheres”, por exemplo. Fora a abertura com os créditos iniciais, mil vezes o original sueco. “E boto fé!”, diria um soteropolitano.
Mais real, densa, fria. Não que David Fincher faça feio, com sua edição rápida, sem deixar a atenção desgrudar da tela, mantendo aquela tensão no ar todo o tempo. Mas o sueco é real, cru e cruel. Tem gente de verdade, com seus “defeitos” faciais de verdade.
A Lisbeth sueca é mais soturna, sinistra, amargurada... Sexy. Mesmo com seu corpo másculo, sua tatuagem monstruosa. Ríspida, violenta e inteligente. Uma pirata de dados com dedo rígido sangrando o ânus da sociedade ridícula e sua horda de pessoas nojentas que fingem serem amigos e cordiais. Ela despreza com elegância e sua vingança é convidativa, inspiradora, libertária. Nasceu na distante e fria Suécia, uma musa moderna para nerds desprezados.
Mas apesar de toda a minha euforia, pasmem, comprarei o DVD Yankee, que é imperdível. Sim, o design oficial é o que ilustra o post. Nessa, admito, os estadunidenses fudidos acertaram em cheio! Para colecionadores, um produto original tal qual uma cópia caseira, como se as mãos ágeis de Lisbeth tivessem rabiscado. Tosco e genial. Como Lisbeth!