Cansado demais para divagar e destrinchar os pormenores, rumino devagar tudo o que vi. À mente, só me vem pensamentos de certeza inerente que algo impulsiona o universo. O ato inocente e puro de ter fé no Deus que jaz nos confins das galáxias, acreditando de coração que súplicas viajam no espaço-tempo até o ouvido da mente eterna que tudo vê e pensa, realmente, é para loucos sonhadores.
Mas não quero impor minhas crenças, quero compartilhar um fato: é uma tolice sem precedentes achar que a vida é feita tão somente de alegrias e que quando o oposto abate nossas costas, logo imaginamos estar sob uma pena maldita advinda dos céus.
Se mais atentos e sensíveis fossemos, observaríamos que tudo está imerso no oceano do “nada é para sempre”. É tão simples de aceitar que faz doer: o tempo a tudo cura, ao passo que também destrói.
Há apenas uma única escolha, e esta é o aceitar a vida como ela se configura. O não estar de acordo é uma opção inexistente, já que todos seremos vítimas certas da implacável morte, seja por obra do acaso (assassinato, acidente) ou somente a ação do tempo no corpo.
Por aí, há loucos que matam crianças, mas há lábios pueris que beijam a mão de pele enrugada de uma avó sorridente. Neste exato momento, alguém em estado terminal definha em uma sala fria de um hospital qualquer, mas também neste exato momento, um pai amoroso abraça com ternura seu primeiro filho que acaba de nascer. Um cachorro morre atropelado, mas um ex-desempregado saca com satisfação no banco, o seu suado e merecido primeiro salário.
São pequenos milagres/desastres que não nos cabem entender porque existem. São pequenas histórias que, mesmo amargas, estão dentro desse sonho coletivo e sem respostas.
“A Arvore da Vida” é uma sinfonia, um fluxo de existência e morte, pulsando a cada instante bem debaixo do nariz. Não é preciso ser o humano mais inteligente do mundo para perceber isso. Mas é preciso muita inteligência para transformar isso em belas imagens que tiram o sono mesmo depois de um dia cansativo.
Eu garanto: antes de adormecer, seus últimos pensamentos serão sobre sua infância, sua vida adulta e sua morte, três grandes momentos que se perdem como ínfimos grãos de areia na imensidão do eterno.
Ilustração: M© (Massimo Carnevale), artista anônimo que pinta cenas emblemáticas de filmes.
Trailer oficial: