Não adianta, não posso negar, não posso me forçar a ser o que não sou. Estou preso ao meu passado. Preso a uma eterna adolescência frugal e divertida. Por isso é fácil declarar: tudo que é novo eu não sei dançar!
E ponto final.
Não sou obrigado a gostar de novos e insossos revivals. New rock, new have, new-sei-lá-mais-o-que. Se os rockabillies são felizes presos nos anos 50, por que não posso estar preso ao pós-punk, ao final dos 80/início dos 90 e ser simplesmente, eu? O que me impede de ouvir as novas bandas que bebem dessa fonte e detonam meus ouvidos (no bom sentido), sem a preocupação de salvar porra nenhuma?
Por isso que é uma satisfação e um deleite estar em um show do Messias, remanescente da eterna e amada "brincando de deus": é voltar a sentir o coração pular com harmonias encantadoras. É bater palmas e gritar “uhu” com vontade e alegria a cada canção executada. É estar feliz por compartilhar calado um momento bom, com alguns outros anônimos que sorvem do mesmo estilo, ou ao menos, simpatizam com algo próximo ao som frio de Manchester ou Glasgow. Se você gosta, sabe o que estou falando. Sabe desse sentimento perdido, de estar no lugar errado, na época errada.
Não sei se outros sentem o mesmo, mas sou órfão de uma época que não vivi plenamente. Assisti de longe, do outro lado do atlântico, através dos olhos de jornalistas cheios de soberba, de revistas “off-lines” e antigas, as grandes festas acontecerem. Recebi a “maldição” de nascer no Brasil". Sim, sem demagogia: você é infeliz pra cacete quando é jovem e perde os grandes eventos do resto do mundo. Infeliz pra caralho quando o tempo passa rápido, envelhece, as bandas do seu coração morrem e o que te resta são grupos bobalhões cheios de alegria “esperta”. Os novos velhos moribundos amam mesmo a louca chuva de sons sujos e distorcidos, criados com pedais e amplificadores.
Apesar de preso materialmente aqui, o coração se liberta, se eleva ao que Neil Gaiman me ensinou: “às paragens etéreas do sonho”. E enquanto ícones como Messias existirem, velhos-adolescentes sem grana como eu, podem ficar tranquilos e abrir um sorriso sincero dentro da escuridão mágica de um teatro cheio dos mesmos rostos (agora envelhecidos) desconhecidos do passado. Assim, quem sabe, consigo simular como eram os velhos shows em Manchester.
Não man, não tive grana para atravessar o país, tão pouco o atlântico. Por isso, Messias, como artista, foi importante na construção da trilha sonora de uma juventude interiorana que ainda persiste. Só que, atualmente, ele não está no centro das atenções. Não é a "batida do momento". A atual juventude, se farta das coisas rapidamente (graças a Deus, não todos). Agitada que é, boceja ao mínimo de sensibilidade. Ainda bem! Fica aquele gostinho egocêntrico de "underground".
(29.01.2011 - Teatro Eva Herz - Salvador - Bahia)