My Blood Valentine, faixa a faixa

segunda-feira, março 04, 2013

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Hoje vou destilar palavras como quem morre amanhã. Nada de padrões técnicos ou estéticos de jornalismo. A coisa aqui vai ficar do jeito que meus sentimentos ordenarem. São 22 anos de espera para quem ouviu “Loveless” em 1991, e 13 para mim, já que só ouvi em 1995 (sim, vivi em um mundo sem internet e não era nada legal).

Esperar anos por um novo disco quase mítico, foi algo que realmente não esperava que acontecesse. Mas finalmente, eis que surge este “MBV, cheio de tudo o que os fãs gostam.


Li críticas esparsas e uma palavra foi bem incomum: datado. O que sempre me pergunto quando ouço isso é, por que carambolas as pessoas se pegam em termos que nada significam, já que música é um produto sem data de validade, que quando bem feita se eterniza de pronto?

O que vocês querem? A cada segundo que passa, você fica datado. Tudo o que passa é datado. Nada permanece intocável e pleno. Enfiem a palavra em suas nádegas e vão ouvir novidades nunca datadas da Billboard ou o Top Ten da MTV.

M.B.V (2013)



1 -  She found now

Tudo começa do exato momento que eles deixaram em 1991. Intacto como um quarto de adolescente morto. Ouço resquícios de City Girl, canção solo de Kevin Shields famosa por estar na trilha de Lost in Translation. Nostalgia pura em pleno 2013. Ainda permanecem os sussurros sutis, o clima cinzento provocado por guitarras roucas. As famosas distorções elegantes que se encaixam perfeitamente com alguma história de amor não correspondida, um coração partido ou a mais pura solidão.


2 - Only tomorrow

Bilinda Butcher tem voz de sonho, de fada encharcada de absinto. Estendendo cada pequena frase por minutos. E sábias são as palavras ditas: somente amanhã que o amor vem fácil. Só depois que tudo vem e te destroça é que você entende o que aconteceu. Talvez um conselho para os não experientes: somente amanhã você entenderá o amor. Enquanto isso, batidas quebradas, mas suaves, preguiçosas para dias preguiçosos. Solo lento, distorção de portas rangentes. Qualquer ruído é música de amor para o My Bloddy Valentine. É onde reside a genialidade da banda.

3 - Who sees you

Aqui continuamos com a chuva básica das guitarras barulhentas. Frases desconexas, incompletas (?), interrompidas por qual motivo? “Alguns acham que o disco é mais estranho do que 'Loveless'. Mas eu sinto que ele realmente nos liberta de algo", disse o vocalista e guitarrista Kevin Shields. Ok, então é isso. Loucura.

4 -  Is this and yes

Um “órgão” até então nunca ouvido nos trabalhos do grupo inicia esta faixa. E novamente é a voz de Bilinda que vem por trás dos sons, mais angelical do que nunca.

5 -  If i am

Hora do mergulho clássico nas ondas suaves de camadas de vozes. Mar de deja vu, com toques eletrônicos. O velho MBV repete a fórmula, mas nada de auto-plágio. É estilo. Existem canções boas e ruins. E essa, em especial, é inebriante.

6 - New you

Batidinhas sexy-dançantes, com guitarras em efeito Tremolo que nos remetem a How Son is Now, do The Smiths, cheia de graça e nível “pop” na medida certa. Hora de olhos fechados para sentir o sol, o ar nos pulmões, ou o corpo alheio que tanto se deseja.

7 -  In another way

Talvez a faixa mais “difícil” do álbum, com repetição das batidas, sempre fixas, mas com ótimas linhas de guitarras e teclados nostálgicos. Um turbilhão de imagens forma-se na mente, mas não sei qual direção seja a mais precisa, a que devo seguir. Apenas ouço.

8 - Nothing is

São 03´:33`` de uma batida, digamos, country, com guitarradas repetitivas. Puro esporro sem preocupações maiores.

9 - Wonder 2

E o disco termina como um jato continuo sobrevoando os céus. Um apoteótico final em que o ruído fica à frente das vozes. Uma grandiosa ópera noise que só agrada aos cultuadores de experimentos sonoros nos níveis de Sonic Youth ou Medicine.

Ou não. 8-D