Um fotógrafo: Antonio Andrade

quinta-feira, setembro 03, 2009



Glamour, decadência, erotismo, urbanidade, fetiche, “trash 80”. O estranho e imaginativo portfolio de Antonio Andrade, fotógrafo brasileiro de moda, que aos poucos ganha a devida visibilidade mundial. 



'Homem de Ferro" em fluxo de pensamento.


Ontem à noite finalmente assisti a Iron Man. Não delirei nem tive espasmos de felicidades. Apesar de toda aquela tecnologia prodigiosa de Tony Stark, que sempre me envolveu nos quadrinhos. As tecnologias sempre estiveram dentro do meu imaginário. Sempre estiverem no momento necessário onde uma companhia humana não estava. Uma TV Philco antiga, uma vitrola sonata e um rádio velho da Sharp que sintonizava ondas curtas e línguas estranhas. Toda a minha adoração por máquinas veio desses três objetos. Por isso, gosto de filmes como Iron Man. Tanto que o achei interessante, mesmo com o sono da tarde acumulado nos olhos. Não gostava de dormir nesse período, mas meu corpo muda. Desaprende a cada dia a ser jovem. Acho que por isso se fosse mais novo, meu cérebro teria adorado e amado Iron Man. Como estava dizendo, não é de todo ruim. Claro que tem que ser fan de quadrinhos, dos heróis impossíveis que ali vivem. É vibrante a velocidade, a tecnologia total que o personagem se insere. Uma boa dose de impossível que alimenta meu estado adulto. Refrigera a memória adolescente que outrora meus poros derramavam em suores de camisas pretas de bandas obscurras. Foi um momento comigo mesmo, deitado na cama, com o LCD virado para o colchão. Lá fora, chovia lá e ventava muito, gotículas do céu pingavam na tela, exagerando os pixels em multicores como arco-iris digital. Não sei como, nem porque ainda assisto a blockbusters e sucessos de bilheteria. Mas mesmo assim, gosto de lamber a cultura de massa de longe. Gosto de ouvir os burburinhos que a a multidão emite. Mesmo que seja para falar mal, ou “um pouco bem”. O fato é que assistia aquele festival de tecnologia cinematográfica e me sentia mal em pensamento. Havia comprado esse DVD no antigo trabalho, por 5 míseros reais. Não me orgulho disso, eu sei, mas, o filme devia ter sido caro e cheio de cifras. E eu ali, no meu colchão babado, cheio de imensas manchas de saliva, assistindo a uma cópia pirata de 5 mangos. A pessoa que me vendeu alugava os filmes e os copiava em casa. Pessoas como ela detonam as locadoras. Falta-me frases, falta-me palavras. Falta-me imaginação, criatividade, doçura na língua, mais adjetivos, sangue literário nas veias. Suar palavras pelos poros. Arrotar histórias sem fim e fantásticas. Aqui estou mais uma vez, repetindo palavras. Repetindo alusões. Corpo, poros, sangue, saliva. Querendo ser grotesco e anormal. Levando a mente pela sinuosidade das letras. A eterna estrada do texto perfeito que nunca acaba. Tão brilhante quanto o dourado da estrada de tijolos de ouro da pequena Dorothy rumo ao castelo grandioso do Mágico de Oz. Tão dourado quanto o sol que em instantes nascerá no horizonte. Tão “amarelamente” dourado quanto a carapaça cibernética do Homem de Ferro, minha primeira tatuagem falsa de chiclete!

A Sombra do Desejo.


Dennis Hopper em seu (único?) personagem “Loser”, Frankie, tem 45 anos e há vinte trabalha para o sanguinário Sal (Michael Madsen), um psicótico que gosta de recolher os testículos de seus inimigos. Sal é dono de um império de filmes pornôs, que humilha Frankie, chamando-o de “Mosca” (Fly).


Mas nem tudo está perdido na vida de Frankie. Ele conhece a atriz pornô Margaret (Daryl Hannah), única pessoa que o trata com respeito e carinho, encantando-se de imediato pela moça. Movido por uma paixão quase adolescente, bate de frente com o truculento Sal para tentar mudar sua própria vida e de sua paixão.


Um drama policial dirigido por Peter Markle (o mesmo de séries de TV como "Arquivo X", "Plantão Médico", "C.S.I." e "The District"), com cenas e diálogos extraordinários. Como por exemplo, logo após Frank conhecer Margaret num set de filmagem.


Os dois decidem dar uma volta pelas ruas na madrugada fria. Com suas longas pernas de fora e vestida de dominatrix, ela quer sentar-se em um banco de praça para descansar e conversar melhor. Frank, educadamente, retira seu blazer e o coloca sobre o banco, para que ela fique mais confortável. Impressionada com o cavalherismo do homem, Margaret lhe diz:

- É um bom palitó, não posso sentar aí!

Frank ri graciosamente e lhe diz ainda de forma mais educada:

- Um bom bumbum, merece um bom palitó!

Margaret ri alto e retruca:

- Ok. Espero não melar ele de esperma!


É nesse clima que "The Last Days of Frankie The Fly" se desenrola e encanta. Para deixar a coisa ainda mais bacana, o filme é devidamente embalado pela sonoridade jazzy 60's de George S, Clinton, cheias de seus trompetes charmosos, bongos vibrantes e clarinetes soturnos.

Um filme simples, levemente triste e bonito de se ver e ouvir.