Momento terrível: um abismo, um vazio. Ocasião
aterradora derivada da clássica falta do que escrever. Esse momento em que o
branco da tela do editor de textos nos maltrata com nada mais do que seu branco
infinito e, lógico, vazio.
Como seria melhor se inventassem um "pano
de fundo para páginas do Word". Pense bem, escrever sobre o céu, uma
paisagem paradisíaca, sobre a galaxia, a lua. Tenho certeza que o ato da
escrita fluiria tão mais fácil, tão mais suave. Ainda mais para quem a presença
divina da inspiração é tão rara quanto às aparições da Virgem de Fátima.
Mas, valha-me deus, é só começar a ouvir Air que
tudo muda.
Na verdade, procurava palavras para descrever as
sensações que venho experimentando com o novo "disco",
apropriadamente intitulado de "Pocket Symphony". Apropriado porque
nesses tempos de miniaturização tecnológica, tudo é permitido levar no bolso. E
como é bom ter essa pequena sinfonia retro futurista em nossos bolsos. Levar
conosco pequenos universos transcendentais na palma da mão. Portas dimensionais
para mundos alternativos de nossa mente. Portas sonoras para mundos de calma,
de paz lisérgica e infinita.
Todas as 12 faixas são novas, mas o deja vú, a
sensação de que já conhecíamos a canção de algum lugar, é inevitável. E não
estou dizendo com isso que eles estão se repetindo, que não conseguem produzir
novos clássicos. Conseguem ter a habilidade rara de construir
sonoridades que "colam" imediatamente em nossos tímpanos. Daí vêm
essa sensação de "onde eu conheço isso?"
Por exemplo ouça "Napalm Love"
e vai entender o que estou falando. Com simples frases, constroem uma
sonoridade grandiosa, como se as palavras cantadas fossem um instrumento.
Todo o álbum parece ter sido feito para Charllote, personagem de Lost in Translation. A começar pelas inserções de instrumentos
típicos japoneses, como o koto e o shamisen. O site oficial, mostra uma sala
ampla, com janelas panorâmicas, igualzinho ao filme. Além de objetos com design
estilo 60´s, mostrando a influencia desse "futuro do passado", marca
registrada do Air.
Outra resenha sobre o
disco: http://www.bodyspace.net/album.php?album_id=946