Hunter e Rum: dois amores

quinta-feira, setembro 15, 2011

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Para amar um autor, você deve ter determinadas semelhanças com ele. Não à toa, qualquer bobagem que ele diz ou escreve, bate fundo no peito e consideramos palavras com toques divinos, sagrados e de uma inteligência incrível.

E tal fato acontece com todos os escritores, desde os considerados mais medíocres até os mais consagrados. O gosto do nosso autor preferido realmente nasce dessas semelhanças íntimas que talvez descobrimos quando nos debruçamos sobre a obra. Assim é com Hunter S.Thompson. Um cara que simplesmente amo muito.

Por vezes, em situações complicadas, me pego pensando: o que Hunter faria? Que movimentos insanos executaria? Que bobagens sem noção diria? É como um amigo imaginário, ou mesmo, um pai fantasma que tento seguir os passos.

E o mais estranho é que não sou como ele: não tenho sua arrogância, seu despeito, seu “falar na cara”, seu botão “foda-se” ativado a todo vapor, sua língua ‘disparadora’ de xingamentos vis... Ou talvez eu ache que não tenha.

Talvez essa mesma energia louca esteja escondida no fundo da alma, aguardando o momento certo de explodir e mandar tudo para o alto. Mas nem me preocupo: as poucas vezes que esse “espírito” esteve comigo, não foi nada bom.

Mas temos algo bem incomum: sou fã de Rum. Meus amigos e conhecidos estão aí para provar. Faço Cubas e Mojitos com gosto e autoridade. E curto muito prepará-los e bebê-los aos litros em seguida. Te deixam “alto” sem parecer, acrescentando mais o teor alegria do que a chatice bêbada comum. Claro, sempre sem ressacas doloridas ou empanturração do estômago. Neste diário, diversas referências compravam nossa ligação.

Desde o título até as histórias que ali estão. Desde sua porralouquice desmedida até pegar-se detalhando poeticamente em pensamentos, uma confusão de bar. Desde sua vontade de esmurrar pessoas escrotas até sentir-se pleno nas manhãs de sol e brisa... É um louco que extrapola na vida, reverberando na escrita. É um louco e tem o meu respeito.

Não sei se Hunter, antes de explodir sua cabeça, teve algum momento de iluminação, alguma noção de qualquer deus sublime que rege o universo, mas vez ou outra, sinto na sua escrita algo bom. Quem sabe não era apenas a poesia, fazendo-se presente, dando o toque angelical ao seu texto sujo.

Era uma alma insana, que fazia o que queria, sem pensar no amanhã ou em conseqüências ruins. Conseguia fazer as coisas do seu jeito e ainda ganhar dinheiro e respeito, a ponto de criar um “estilo dentro do estilo jornalístico-literário”: o Gonzo foi sua maior contribuição para esse mundo maluco, com sua gente hipócrita, que vive de aparências vãs.

“Quando as coisas ficam estranhas, os estranhos viram profissionais". É por isso que quero ser um profissional da arte de contar histórias do meu jeito, pois o repórter é o que te conta o que aconteceu, ele é parte da ação (ou o centro), não algo distante, frio, tal qual um robô de fatos.

São formas diferentes de dizer a mesma coisa. São maneiras incríveis de relatar o mesmo acontecimento.

Eu quero te contar, mas por favor, deixe-me te contar do meu jeito!

 

 

 

P.S

Em outubro de 2011, chega às telas o filme baseado no livro. Assista ao trailer: