SP – Uma semana

segunda-feira, julho 02, 2012

DSC01082Foto: Jessica Rampazo

 

Os dias ainda são poucos para dizer que já me acostumei as grandes dimensões de São Paulo. Apesar de até mesmo uma rápida ida à padaria da esquina seja uma experiência sensorial curiosa, no fundo sinto que aqui há engrenagens que se encaixam perfeitamente as minhas. Tudo funciona como ansiava que funcionasse. E a diversidade de pessoas, lugares e coisas, me dão perspectivas necessárias para fincar bandeiras. Há um gosto, uma vontade de consumir tudo ao mesmo tempo e, ao mesmo tempo, o medo de me entupir com tudo isso.

Sua grandiosidade pode até parecer temível, mas é como um gigante que te passa uma segurança interessante. As pessoas estão nas ruas aos montes, a qualquer hora do dia. Vivem cada uma sua rotina da maneira como querem, sem julgar o outro. Ao menos, aparentam isso.

Nos pontos de ônibus ou estações do metrô, muitos estão com seus smartphones, tablets ou livros em punho. Não é o lugar mais seguro do mundo, mas há uma certa liberdade para mergulhar sem receios nessas mídias, sempre entre uma espera e outra. E mesmo essas esperas, são tempos determinados, como se tudo fosse cronometricamente planejado.

Sou anônimo, quase invisível entre todos, o que me dá o poder de observar discretamente os muros, construções, pichações, grafites, as variações de cinza do concreto, os bares charmosos, o frio...

Ah, o frio, que me racha os lábios e me espreme os ossos! Acostumado ao calor extraordinário da soterópolis, em que mesmo sem olhar o relógio, o corpo percebe que momento do dia se encontra, aqui parece apenas existir a manhã e a noite.

A epiderme entende sempre que estamos ainda nas 07 horas da manhã e a tarde é um arremedo do que eu conheço por “tarde”. É como um jet lag espiritual-climático, em que minha alma aparenta ter ficado sob o sol do inverno-que-mais-parece-verão da Bahia. Mas não reclamo...

Tudo é aprendizado e aceitação das coisas como elas são. Prova maior é meu olhar sobre os pontos negativos, que aqui, logicamente, também existem. Em especial (e propositalmente excluo o turbilhão de gente aglomerada em horários de pico, já que ainda não tive o “prazer” de estar na situação), escolho um ponto que é típico de qualquer grande metrópole: moradores de rua e pombos.

Estas duas criaturas convivem em perfeita harmonia, em uma simbiose que só um olhar virgem da cidade pode perceber. A diferença tremenda é que os pombos parecem elegantes, mais dignos em seu ciscar frenético e impaciente, com suas plumas de cores discretas. Já os humanos, parecem trapos ambulantes, cinzas, o pano de chão da cidade. Os dois, dividem o ouro de suas vidas: restos de comidas. Discrepâncias que jamais deveriam ser tomadas como normal, mas tenho a consciência que, em breve, vão “ficar invisíveis” até aos meus olhos.

De qualquer modo, tudo é ainda muito cedo para grandes conclusões, mas como disse no início, as engrenagens se encaixam. Só vem me incomodando mesmo algumas saudades, e estas são três: minha mãe, minha gata morta Aisha e, meu Deus, quem diria, a areia confortavelmente morna das praias de Ipitanga e Arembepe, se moldando entre os dedos dos pés, relaxando os nervos.

Mas estas areias, tão longínquas agora, ainda me ensinam de seu modo tão peculiar. Parecem dizer, “molde-se àquilo que te pisa, peregrino”!

Com certeza, a coisa mais sábia a fazer!

 

 

4 comentários:

Dolly disse...

Parabéns pela experiência, chuchu. São Paulo precisa de tempo para ser digerida. Não só pelo tamanho mas também pelas várias facetas, muitas delas cruéis.
Optei por fazer do Rio a minha casa e ir a Sampa em dias festivos. Acho que esse arranjo casou melhor com minha alma soteropolitana.

Deniac disse...

Massa, Dolly. Espero consumir a cidade com moderação. Quando aparecer, avise!

Tatiana Carpanezzi disse...

Deniac!

Que bom ler seu texto!

Eu me sentiaassim em SP, com esse olhar expectador mas ao mesmo tempo deslumbrado - sem deixar de ser crítico.

Desejo a vc uma maravilhosa adapatação à Sampa, cidade que acho encantadora.

Bjos

Deniac disse...

Muito obrigado, Tati! Aqui é um paraíso (apesar de frio e sem praias, he he he!