Os dias ainda são poucos para dizer que já me acostumei as grandes dimensões de São Paulo. Apesar de até mesmo uma rápida ida à padaria da esquina seja uma experiência sensorial curiosa, no fundo sinto que aqui há engrenagens que se encaixam perfeitamente as minhas. Tudo funciona como ansiava que funcionasse. E a diversidade de pessoas, lugares e coisas, me dão perspectivas necessárias para fincar bandeiras. Há um gosto, uma vontade de consumir tudo ao mesmo tempo e, ao mesmo tempo, o medo de me entupir com tudo isso.
Sua grandiosidade pode até parecer temível, mas é como um gigante que te passa uma segurança interessante. As pessoas estão nas ruas aos montes, a qualquer hora do dia. Vivem cada uma sua rotina da maneira como querem, sem julgar o outro. Ao menos, aparentam isso.
Nos pontos de ônibus ou estações do metrô, muitos estão com seus smartphones, tablets ou livros em punho. Não é o lugar mais seguro do mundo, mas há uma certa liberdade para mergulhar sem receios nessas mídias, sempre entre uma espera e outra. E mesmo essas esperas, são tempos determinados, como se tudo fosse cronometricamente planejado.
Sou anônimo, quase invisível entre todos, o que me dá o poder de observar discretamente os muros, construções, pichações, grafites, as variações de cinza do concreto, os bares charmosos, o frio...
Ah, o frio, que me racha os lábios e me espreme os ossos! Acostumado ao calor extraordinário da soterópolis, em que mesmo sem olhar o relógio, o corpo percebe que momento do dia se encontra, aqui parece apenas existir a manhã e a noite.
A epiderme entende sempre que estamos ainda nas 07 horas da manhã e a tarde é um arremedo do que eu conheço por “tarde”. É como um jet lag espiritual-climático, em que minha alma aparenta ter ficado sob o sol do inverno-que-mais-parece-verão da Bahia. Mas não reclamo...
Tudo é aprendizado e aceitação das coisas como elas são. Prova maior é meu olhar sobre os pontos negativos, que aqui, logicamente, também existem. Em especial (e propositalmente excluo o turbilhão de gente aglomerada em horários de pico, já que ainda não tive o “prazer” de estar na situação), escolho um ponto que é típico de qualquer grande metrópole: moradores de rua e pombos.
Estas duas criaturas convivem em perfeita harmonia, em uma simbiose que só um olhar virgem da cidade pode perceber. A diferença tremenda é que os pombos parecem elegantes, mais dignos em seu ciscar frenético e impaciente, com suas plumas de cores discretas. Já os humanos, parecem trapos ambulantes, cinzas, o pano de chão da cidade. Os dois, dividem o ouro de suas vidas: restos de comidas. Discrepâncias que jamais deveriam ser tomadas como normal, mas tenho a consciência que, em breve, vão “ficar invisíveis” até aos meus olhos.
De qualquer modo, tudo é ainda muito cedo para grandes conclusões, mas como disse no início, as engrenagens se encaixam. Só vem me incomodando mesmo algumas saudades, e estas são três: minha mãe, minha gata morta Aisha e, meu Deus, quem diria, a areia confortavelmente morna das praias de Ipitanga e Arembepe, se moldando entre os dedos dos pés, relaxando os nervos.
Mas estas areias, tão longínquas agora, ainda me ensinam de seu modo tão peculiar. Parecem dizer, “molde-se àquilo que te pisa, peregrino”!
Com certeza, a coisa mais sábia a fazer!
4 comentários:
Parabéns pela experiência, chuchu. São Paulo precisa de tempo para ser digerida. Não só pelo tamanho mas também pelas várias facetas, muitas delas cruéis.
Optei por fazer do Rio a minha casa e ir a Sampa em dias festivos. Acho que esse arranjo casou melhor com minha alma soteropolitana.
Massa, Dolly. Espero consumir a cidade com moderação. Quando aparecer, avise!
Deniac!
Que bom ler seu texto!
Eu me sentiaassim em SP, com esse olhar expectador mas ao mesmo tempo deslumbrado - sem deixar de ser crítico.
Desejo a vc uma maravilhosa adapatação à Sampa, cidade que acho encantadora.
Bjos
Muito obrigado, Tati! Aqui é um paraíso (apesar de frio e sem praias, he he he!
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