Para uma menina que eu aprendi a amar na marra

quinta-feira, março 29, 2012

deniac_contorno_salvador

Morena, pele lisa e boca carnuda. Despindo-se ao mar, seu lugar preferido. Somente lá pode esconder suas lágrimas que se perdem no salgado Atlântico. Mulher linda, voluptuosa, mas extremamente mal amada. Banha-se nas águas densas como para esquecer suas dores, na vã tentativa de emergir sem aflição depois de um mergulho lento. Ela está perdida na vida.

Haveria um príncipe valente que lhe tomaria as mãos e a levasse para bem longe do sofrimento? Ou está fadada a sofrer uma praga lançada por olhos invejosos, vermelhos de ódio? Por que ninguém a ama de verdade?

Dia desses, a vi de longe, descalça, maltrapilha, andar cambaleante. Era uma deusa em decadência. Me aproximei, pegando suas mãos e beijando-as com lábios e nariz, dizendo “Apesar de tudo, dessa vida dura, do amargor das coisas ao seu redor, do seu suor e do seu calor, você ainda cheira como noite de estrelas esparramadas no céu”.

Com tanto exagero e eloqüência de palavras, claro que lhe arranquei um sorriso. Mesmo assim nada disse, continuava com aqueles olhos melancólicos. Aí continuei: “Se pudesse, te colocaria no bolso, bem protegida, dentro de uma bola de gude. E quando a saudadezinha boa batesse, ficaria te observando brilhar por dentro, ao te pôr contra a luz do sol!”.

Como para agradecer aos gracejos, ela me beijou nas bochechas. Depois deu apenas um sorriso singelo que valia dezenas de palavras. Então seguiu seu caminho. Olhou para trás, beijou os dedos e lançou pelo ar afagos invisíveis. Ela sempre faz isso. Me encanta de uma maneira estranha...

Como sempre, ela foi andando e se perdeu nas ruas sujas e fedorentas, em contraste com sua beleza única. Só me restava suspirar e fazer uma prece de coração. Depois, balbuciei para mim mesmo: “Acho que talvez não encontre ninguém como ela em nenhum lugar do mundo. O mais incrível é como aprendi a te amar na marra. Nem gostava de você. E bem, já que foi assim, só me resta aceitar o fato de que, é realmente, inesquecível. 

Nas suas mãos, está meu coração, minha querida e abandonada, Salvador! 
 
 
 
 











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