As pessoas são estúpidas. Facilmente aceitam personagens e embustes de personalidade. É só inventar, repetir comportamentos padrões, adicionando um pouco de verossimilhança e pronto, você pode ser o que quiser ser. Mas não é de todo ruim, é bom que aconteça.
Por vezes, é preciso camuflar-se do comum para não assustar. E nada é mais perigoso do que almas assombradas. Farão de tudo para manterem-se tranquilas. São como crianças envergonhadas cobrindo o colchão molhado de xixi, na esperança de ninguém perceber. Mas não tarda, nada pode ocultar isso, o “cheiro” será percebido!
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Há uma linha fina, quase invisível, entre loucura e adoração religiosa. A constatação foi empírica: sujeito com celular transformado em potente mini-sistema de som, reverberando dentro do ônibus.
Em pé, mão direita grudando o alto-falante no ouvido, enquanto a mão esquerda vibrava como um maestro nervoso. Ainda por cima, entoava alto uma canção mundana travestida de louvor com inspirações divinas.
Ao descer em seu ponto, foi alívio para o resto dos passageiros. Um deles, desabafou: “Não se pode converter a força, mesmo que a verdade dele seja a certa. Se alguma chama se ascendeu dentro do meu coração, essa foi a do ódio!”.
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Não queria ir para casa. Entrou no mercado, procurou coisas aleatoriamente, como se nas prateleiras houvesse algum produto que selaria as rachaduras internas da mente.
Saiu, claro, sem nada comprar, mas viu um cão de rua enorme sentado na calçado, com um profundo e vivo olhar. Era como se dissesse:
“Somos totalmente diferentes em desprezo. Penso assim por ter certeza de que, pelo menos, meia dúzia de seres lembram de seu nome todos os dias. Talvez uns gostem mais, outros menos, mas o fato é que estes pequenos conflitos te fazem um homem de verdade. Somos iguais apenas em solidão. Mas essa, caso queira, pode ser tão rápida quanto um bom espirro, meu rapaz!”.
Foto: Denis Buchel
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