Por estas plagas, sempre foi costume dizer: “o ano só começa quando o carnaval termina”. Claro que a afirmativa não é levada ao pé da letra, mas como todos sabem, “todo boato tem seu fundo de verdade, ainda mais quando quem o inventou tem boa imaginação”.
Antes da festa, há um misto de fazer o que tem que ser feito com divagações de onde sair, o que vestir, quem beijar. Há pitadas de verdades nisso, mas enfim, agora o povo finalmente se concentra em um real começo, ajustando-se às suas vontades e metas de trabalhos.
Por aqui, no meu país particular, o carnaval passa longe, mesmo que o corpo esteja no centro do olho da folia. Divirto-me com os antigos carnavais que renascem, quem diria, no coração do Pelourinho e da juventude e isso foi toda a minha história de folião despudorado.
Queira eu ou não, a percepção de que estamos em 2012 e que tudo recomeça, está mais nítida. Cheio de adversidades e mudanças literais, esta nova temporada mostrou traços de minha personalidade até então desconhecidos: sou metódico.
Morando na mesma casa por 25 anos, não tem jeito, você sabe onde está cada milímetro de coisas, cada pedaço de átomo, cada grama de areia suspensa no ar. E é difícil adaptar-se, mover-se por paredes que não te conhecem, olhar tetos que não testemunharam seus estágios de crescimento.
Pego-me sem noção, tentando construir uma rotina, um padrão de ações, tudo em vão. Até o céu, em noite estrelada, não é o mesmo. Frustração, em início, passa a ser uma constante. O desconforto em tudo é a única coisa presente, tátil e relevante.
Mas fique atento, aceite o que descobri: você não constrói a rotina de um lugar. O lugar que constrói uma rotina para você. E quanto mais resiste, pior. Mas mesmo que sua cabeça seja dura, pode resistir a vontade: em breve, sem perceber, você será o lugar que te desconforta, o lugar que teme, o lugar que odeia. Depois, ao passar tudo isso, como um piscar de olhos, como um espirro relaxante, você será o lugar que ama.
Não a nada a fazer, é o fim do carnaval, o ano finalmente começa, acorde e aceite a mudança, peregrino!
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