Y - The last man e DMZ: quadrinhos para despertar

terça-feira, agosto 05, 2008




Passar a maior parte do tempo de uma cidade para outra, entre um ônibus e outro, deixando o tempo escapar pelos dedos de forma ociosa, é sem duvida uma perda de energia sem precedentes. Ter uma vida social/cultural concentrada em outra cidade dá nisso. 

Por isso, as rápidas viagens de 70, 90 minutos não podem passar em branco, tenho que ler. Mas desde o colegial, minha mãe adverte sobre os males da leitura em movimento. Do quão perigoso é ler em carros e ônibus, da possibilidade horrenda de ter um descolamento da retina

Foi nesses momentos de enfados de ir e vir, de estar cansado da mesma estrada, da mesma janela com as mesmas paisagens, que resolvi comprar a edição nº16 da Pixel Magazine. Uma feliz aquisição, certamente arranjada pelas forças do destino. 

Como explicar que as historias ali contidas viriam a reacender um fogo, uma esperança de que algo no mundo pessoal da minha imaginação e fantasia não estavam perdidos? Como entender que justamente nessa edição, eu pude me re-conectar nas antigas crenças do que era minha idealização sobre o jornalismo?

Refiro-me aqui a duas coisas que me chamaram a atenção: "Y- O ultimo homem" e a crônica/apresentação da saga DMZ, escrita pelo editor-chefe da revista Set (Rodrigo Salem) intitulada "Cinzas da bandeira americana". 

Em "Y", temos a surpreendente constatação de uma estranha doença que extermina todos os machos do planeta, deixando apenas um rapaz e seu macaco de estimação como sobreviventes. Um mundo inteiro de mulheres, de fêmeas a sua disposição? Não mesmo. A suposta sorte tem mais é cara de maldição. Constatação essa que certamente o jovem Yorick encontrará nas próximas edições. 

Escrita por Brian K. Vaughan, um dos vários roteiristas de Lost, "Y- O ultimo homem", entrou na minha corrente sanguínea, e já visualizo as possibilidades dessa estranha realidade e que tipos de acontecimentos isso pode levar. Desde já, me vejo viciado e preocupado com mais uma coleção que certamente torrará meus bolsos e deixará um pouco longe do sonho do meu primeiro milhão (nos EUA durou por 60 edições e aqui no Brasil, cada revistinha custa R$10,90).

E em DMZ, o que temos? Bem, temos os EUA numa guerra civil que dividiu o pais. Temos o cara que está no centro nervoso desse inóspito acontecimento futuro, o fotojornalista Matthew Roth. Temos ainda o seu medo da morte, sua frustração perante um conglomerado de noticias que o oprime e sacaneia. Há também Brian Wood, o criador dessa bomba maravilhosa que nos acorda para esse mundinho dito moderno que vivemos, de controle disfarçado e quase imperceptível. O texto do Rodrigo Salem, ao final do episódio, é de levantar defunto da cova.

Sael escreve com força e raiva necessária que colegas de faculdade não costumam ter. Um jornalismo que se perde devido a essa mesma disciplina que paira sorrateira sob e sobre nossas cabeças. De professores que não mais nos despertam a nada. Do próprio sistema que nos domestica como gatos gordos e felpudos, nos alimentam sem parar, dando o conforto que escraviza.

Aprendi com o Rodrigo: pense em Google. Pense em Facebook. Pense em Twitter. Grandes empresas travestidas de livre-arbítrio. Gosto de rebeldia, da agressividade nos textos, de mexer nas entranhas do pensamento e fazer pensar por dentro. É isso onde eu queria chegar, onde quero me apegar: aprender a pensar com o coração, com a mente e com o punho.

Ah, claro: e escrever estórias incríveis como as destes quadrinhos.