Gigante: ternura e simplicidade em estado bruto.

Já se passaram mais de cinco meses desde que vi essa fita, prometendo a mim mesmo uma resenha... Ou o que eu considero algo próximo a isso. Faço pela necessidade de lembrar. Mas para tal ato, o de escrever sobre um filme, preciso realmente me interessar pelo o que assisti. Preciso ter algo para me pegar e desfiar, como uma aranha, as palavras dos meus dedos.

Gigante é um desses tipos de filme que se encaixam exatamente no que eu preciso. Simples em essência trata de um grandalhão apreciador de rock pesado, que leva uma vida solitária. Como guarda noturno de um supermercado 24 horas, seu trabalho consiste apenas monitorar, através de câmeras, clientes e funcionários, para que nada seja roubado. Sim, um emprego enfadonho, cansativo, que torna sua vida ainda mais apática.

A grande mágica surge quando, justamente a sua ferramenta de trabalho, lhe revela através do monitor preto e branco, uma garota sem muito trato manual, que trabalha na limpeza do supermercado. O modo desajeitado dela, que derruba os produtos no momento em que limpa, lhe faz brotar um sorriso no rosto... E também em seu coração.

 Desse momento em diante, a fita mostra como ele a observa cada vez mais, como cada movimento da moça na tela, lhe desperta seu interesse e lhe adoça a vida. Do rosto pesado, chato e carrancudo, nasce feições da mais pura admiração.

Seus olhos, antes mortos devido a uma rotina de vida sem grandes novidades, agora brilham de forma graciosa. E é belo ver a luz do monitor refletindo no seu olhar. Brilho de tela de tv, de raios catódicos do tubo de imagem como representantes do brilho de algo que amamos a primeira vista.

 Seu mundo agora tem outras perspectivas. O emprego, agora faz sentido. A vida, agora passa a ser imaginada ao lado dela. Por isso que ele a busca fora do trabalho, sempre de longe. Segue-a, mas sem loucuras ou obsessões. Investiga a sua vida, só para passar constantemente pela frente da casa, para quem sabe, vê-la um pouco sob os raios do sol.

Agora tudo muda e ele percebe que ela, tão frágil e tão pequena, lhe roubou o coração de monstro gigantesco.

 

O que disseram por aí:

Dirigido pelo cantor argentino Adrián Biniez, Gigante conquistou diversos prêmios, como o Urso de Prata, o de diretor estreante e de inovação cinematográfica, todos no 59º Festival de Berlim. O longa uruguaio ainda foi selecionado para o Festival de Gramado de 2009. Horacio Camadulle, ator que representa Jara, tem 1,93m de altura, mas usou sapato com plataforma para parecer ainda maior. Todo o resto do elenco foi escolhido também pela altura, quanto menor, melhor. No Uruguai, Camadulle é conhecido como um comediante de stand up.

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